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A relação da disbiose com o transtorno de ansiedade na compulsão alimentar e estratégias de prevenção:

Transtornos de ansiedade estão entre os seis maiores marcadores globais para a perda de saúde.  No ranking das Américas, em 2017, o Brasil figurou com a maior taxa: 9,3% da população, sendo o Chile o segundo colocado com 7,6%. Associado à ansiedade está o comportamento alimentar compulsivo, caracterizado por episódios recorrentes de consumo de grandes quantidades de comida vinculado à compensação como forma de amenizar sofrimentos.

O desequilíbrio no comportamento do sono, caracterizado principalmente por sua curta duração, também se relaciona à compulsão alimentar nestes indivíduos.  A comorbidade geralmente associada à ansiedade é, portanto, a obesidade.

Considerando que a ansiedade é uma doença de caráter neurológico e que estudos de interação entre o trato gastrointestinal e o cérebro apontam para uma correlação entre sintomas mentais relacionados à depressão e ansiedade, o eixo intestino-cérebro tornou-se relevante assunto de investigação.

A microbiota intestinal é um grupo de microrganismos que colonizam o corpo humano caracterizado por relações positivas e negativas as quais impactam nossa saúde. Com o aumento do entendimento de que a constituição da MI desencadeia processos de diferentes doenças, probióticos combinados têm mostrado eficácia na redução da ansiedade. Estudos mostram que cepas bacterianas específicas são capazes de produzir serotonina, GABA e outras aminas do triptofano. O triptofano serve como único substrato para a síntese de serotonina, que ocorre primariamente no trato gastrointestinal distal e, numa extensão menor, no sistema nervoso central.

Tanto o tipo de dieta associado à uma suplementação adequada como aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), ácidos graxos poliinsaturados (ômega 3), vitaminas e minerais, são cruciais para a manutenção de estruturas cerebrais funcionais já que participam em diversas vias metabólicas, sinalização celular do metabolismo da glicose e da gordura, além da síntese de neurotransmissores.

Também produzidos pelas bactérias intestinais, ácidos graxos de cadeia curta auxiliam na permeabilização das paredes intestinais, reduzindo inflamações intestinais presentes em desordens mentais. Os AGCC são metabólitos da MI, também conhecidos como pós-bióticos.

Com base na ligação cérebro-intestino, como deve ser a nutrição e a suplementação eficaz para a prevenção e o tratamento do transtorno de ansiedade, com foco na ansiedade com alimentação compulsiva? Da mesma forma, justificar como uma dieta anti-inflamatória, suplementação específica de vitaminas, minerais e probióticos ajudam a fortalecer as funções intestinais de barreira, de imunidade e a produção adequada de neurotransmissores do bem-estar. 

SUPLEMENTAÇÃO COM PROBIÓTICOS


Na obesidade com compulsão alimentar, a diminuição da diversidade de microrganismos está envolvida na degradação de mucina, camada de muco intestinal que reveste e cria a barreira intestinal, protegendo o epitélio contra patógenos.

Com a permeabilidade do epitélio intestinal ocorre a passagem de agentes patógenos, endotoxinas e bactérias para a corrente sanguínea que resulta em uma intensificação do sistema imunológico, em razão do quadro de inflamação, por liberar citotoxinas pró-inflamatórias que agirão no cérebro. Da mesma forma haverá menor concentração de ácidos graxos de cadeia curta do intestino para o cérebro, o que pode gerar compulsão alimentar.

SUPLEMENTAÇÃO COM ÔMEGA 3

O ácido graxo ômega 3, fonte de EPA, DHA e ALA, pode ser encontrado em sardinhas, salmão, linhaça, nozes, entre outros alimentos que agem como uma espécie de bioativos anti-inflamatórios perante tensões mentais.

Os nutrientes presentes no ômega 3 contribuem para que ocorra uma modulação neurológica e proporciona redução na produção de cortisol além da ação anti-inflamatória, principalmente pela redução de citocinas, melhorando o quadro de ansiedade no indivíduo que o consome.

SUPLEMENTAÇÃO COM TRIPTOFANO

O triptofano é um aminoácido precursor de serotonina e de melatonina, neurotransmissores envolvidos com a regulação do sono e do humor, cuja falta tem impacto negativo sobre o comportamento alimentar.

A serotonina, conhecida como neurotransmissor do humor, tem efeitos anorexígenos e sedativos, os quais atenuam os efeitos da ansiedade. Da mesma forma, a dopamina, outro neurotransmissor, também têm papel fundamental na regulação da energia do metabolismo, atividade locomotora e comportamento alimentar.

Padrões alimentares baseados na dieta mediterrânea poderiam ter benefícios para a melhora da qualidade do sono, já que o alto teor de triptofano presente nessa dieta, atua como precursor de serotonina e de melatonina.  O triptofano, tanto pode ser administrado de forma segura em forma de suplemento, como pode ser obtido mediante o consumo de alguns alimentos como a banana, ovos, chocolate amargo, arroz integral, amendoim, mel e leguminosas.

SUPLEMENTAÇÃO COM MAGNÉSIO

Sobre o magnésio, possui o papel de atuar na melhoria acerca das funções cognitivas, de modo que corrobora para uma maior produção de serotonina, além do fato de ativar mais de 300 reações no corpo humano.

É possível encontrar esse micronutriente em alimentos, como nozes, abacate, leguminosas, pescados, amêndoas, cacau, entre outros, de maneira que contribui na redução de sintomas, como a compulsão alimentar e quadro ansioso.

SUPLEMENTAÇÃO COM VITAMINA B6 e B12

A microbiota intestinal está envolvida no metabolismo dos alimentos, armazenamento de nutrientes e na síntese de vitaminas, como algumas do complexo B e a vitamina K. A falta de vitamina B6 e B12 podem prejudicar o desenvolvimento e o crescimento humano, pois indivíduos com deficiência apresentam constantemente tristeza, ansiedade, depressão, entre outros aspectos que diminuem a qualidade de vida.

Tanto a suplementação diária de vitamina B6 como a de B12 está intimamente ligada à síntese de neurotransmissores do SNC, como a serotonina, a norepinefrina e a dopamina. A vitamina B12 é considerada um micronutriente essencial para um correto funcionamento das células humanas, de modo que ela é responsável por reduzir sintomas relacionados à quadros depressivos e ansiosos, que trazem alteração de humor, tristezas e o medo.

Existe uma associação inversa da quantidade de vitamina B12 com a duração e a qualidade do sono que são fundamentais para o controle da ansiedade e da compulsão alimentar noturna, principalmente por alimentos altamente calóricos.  Importante salientar que a relação da deficiência da vitamina B12 com o transtorno de ansiedade por si só não é um fator decisivo para desencadear esse distúrbio, porém a falta dela traz agravo a esse transtorno.

DISBIOSE E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES

O estado de disbiose faz com que o organismo não absorva corretamente os nutrientes e vitaminas, diminuindo os níveis naturais de B12, ferro, magnésio, entre outros que colaboram para o surgimento de sintomas de desânimo, tristeza, variação do humor, entre outros fatores.

Foram identificados resultados promissores em relação ao uso de probióticos. Entretanto, como tratamento para distúrbios psiquiátricos, como anorexia nervosa, ansiedade e compulsão alimentar torna-se indispensável e essencial que sejam administradas cepas microbianas específicas como Bacteroidetes, Eubacterium e Akkermansia.

O suporte da suplementação não substitui a adoção de uma alimentação saudável. Ambos estão vinculados ao equilíbrio da microbiota intestinal, contribuindo diretamente em uma maior qualidade de vida. Sendo assim, pode-se ressaltar que ao se alimentar com mais qualidade e variedade nutricional é possível equilibrar a microbiota intestinal, mitigando sintomas depressivos e distúrbios de ansiedade.

Além disso, existem evidências significativas de que a crononutrição (os melhores horários para ingestão de determinados alimentos) é uma prática terapêutica potencializadora e considerável para o tratamento e prevenção de doenças metabólicas. Desta forma, a crononutrição pode ser somada às práticas clínicas atuais para que o indivíduo consiga potencializar os benefícios da alimentação e suplementação a fim de tratar a causa de diversas doenças.

Apesar de a suplementação com probióticos ser consenso para o tratamento da disbiose, necessita-se de mais estudos para compreender e aplicar a combinação eficaz das cepas pertinentes e de todos os suplementos sinérgicos a fim de tratar o transtorno de ansiedade.

Sendo assim, entende-se que, antes de aplicar qualquer suplementação ao indivíduo com ansiedade, a base deve ser a mudança da alimentação inflamatória para uma alimentação anti-inflamatória considerando inclusive a crononutrição para o favorecimento da absorção a nível intestinal dos nutrientes ofertados no tratamento da ansiedade.

Dessa forma, a educação alimentar aliada ao uso planejado de probióticos e prebióticos, garante a modulação da microbiota intestinal, auxiliando no tratamento de distúrbios como a ansiedade e compulsão alimentar.